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"Não há docência sem discência e decência!"

  • Foto do escritor: Amanda Chaves
    Amanda Chaves
  • 18 de jul. de 2016
  • 3 min de leitura

Hoje compartilho com vocês um artigo que eu escrevi e foi publicado no Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba na última terça-feira (12/07/2016).

Para acessar o artigo na íntegra clique aqui.

Parafrasear Paulo Freire é como participar de um profundo diálogo com o autor, como se ele estivesse em minha frente, aberto a escuta e disposto a troca de ideias, e juntos mergulharmos na busca por uma prática docente ética e esteticamente capaz de respeitar o outro, o diferente, o aluno, que assim como eu (professor), carrega consigo conhecimentos e experiências socialmente construídas que precisam ser respeitadas e aproveitadas. O ensino requer a ligação entre docência e discência, caracterizada como "do-discência". É neste sentido que inicio citando uma das afirmações mais conhecidas de Paulo Freire: "não há docência sem discência", acrescento também sem decência. Decência ligada à ética, ao compromisso, ao respeito, à honestidade, à dignidade de formar cidadãos e não de amesquinhar o caráter humano no exercício educativo. Educar, formar, ensinar, exige a aceitação do novo e a rejeição a qualquer forma de discriminação; a capacidade de escutar e dialogar, e não meramente transmitir/transferir conhecimentos como se o outro fosse apenas um receptáculo vazio a ser preenchido por conteúdos que devem ser memorizados mecanicamente. Domesticando e não formando. É escutando que aprendemos a falar com eles e não para eles. Ensinar exige respeito à autonomia e à identidade do educando que se inicia e se processa continuamente pelo diálogo, pela troca de saberes, no processo de construção do conhecimento. É meu bom senso que me leva a considerar as condições existenciais e experienciais do outro (educando) e é com minha autoridade de professor que exerço meu papel. Autoridade que não está relacionada ao conceito de uma educação verticalizada e autoritária, que impede a democratização do ensino e a participação ativa do educando; mas sim, relacionada a uma prática docente horizontal, em que eu, professor, atuo como mediador, considerando os saberes já existentes de meus alunos, dialogo com eles, oriento as atividades, a favor de uma formação crítica e reflexiva, capaz de despertar a curiosidade para compreensão e aquisição de novas aprendizagens e produção de novos conhecimentos. Embora muitos professores se considerem progressistas, falam muito e fazem pouco. Os discursos que saem das bocas dos docentes defendem uma educação para a escuta, para o diálogo, para a troca de conhecimentos, mas o que realmente se verifica, são práticas atreladas ao neoliberalismo, ao individualismo, à indiferença para com o outro, à discriminação ao diferente, à imposição de normas, regras e saberes sem contexto, função e significação aos alunos. Talvez, ou, diga-se de passagem, com grande probabilidade, essas posturas estejam atreladas ao formato da escola brasileira moderna, que detêm uma estrutura aprisionante, com grades curriculares fechadas, baseada em uma educação bancária de ensino e burocratizadora de mentes. Então, como, eu professor, me aproximo e desperto a curiosidade de meus alunos se não exerço o diálogo? Se sigo normas e regras de um contexto escolar com uma estrutura neoliberal, apriosionada e fechada? A culpa é minha, como professor, ou, de um sistema escolar que segue e impõe princípios neoliberais? De quem seria a culpa? Seria uma fatalidade? A essas inquietações considero, seguindo as palavras de Paulo Freire, que a má qualidade do ensino no Brasil não é, como ele disse e tem repetido, uma fatalidade. É antes o resultado de uma educação sem decência, antiética, antidemocrática, autoritária, tradicional e neoliberal, que marginaliza, não respeita, não escuta, não dialoga e, consequentemente, não forma.

Espero que os meus choques e as minhas inquietações sejam também de muitas pessoas para que assim possamos juntos lutar por uma educação mais decente, digna, ética e humana.

Beijos amores e até a próxima.

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